sábado, 5 de março de 2011

A Vida






Nessa sequencia de fotos temos um "ataque" frontal de um jabuti a uma planta ornamental. Essas imagens podem ser consideradas como algo banal, normal, corriqueiro, sem acarretar um maior interesse a quem está longe de voltar os olhos para o meio natural. Mas aos meus olhos são uma amostra viva de que as relações entre os seres vivos podem nos fazer refletir o quão em termos de evolução nas relações sociais os homens conseguiram alcançar, onde essas mesmas relações sociais se efetuam segundo normas de conduta construídas no decorrer dos tempos, deixando para trás qualquer conduta semelhante ao caso mostrado acima. E confesso que essas imagens mais cedo ou mais tarde seriam postadas, porque as considero um exemplo de como as existências são desenvolvidas no planeta a todo momento, onde de forma visível ou invisível essas relações se desenvolvem mundo afora.
E faço uma comparação de que a vida é isso mesmo, que a despeito da pretensa organização nas relações sociais humanas, qualquer um, a qualquer momento, pode se ver em um momento que foge dos padrões de conduta e da lógica colocada pelos homens a tudo e a todos. Pois segundo pretendem os homens, o mundo deve seguir essa mesma lógica construída para que tudo ocorra segundo o planejado. Mas a vida sempre surpreende. E tomando por base o exemplo acima pode-se compreender como a vida é efêmera, frágil, sujeita aos fatores externos a ela mesma para continuar, ou não, a própria existência. E uma vez confirmada a inevitável fragilidade da vida frente aos inusitados do mundo tem-se várias reações, que vão do desespero ao apego por "sistemas" construídos e que promovam uma ideia de estabilidade necessária ao bom viver.
Mas vejam como a vida dos seres vivos está entregue à própria sorte no mundo, e pensei muito antes de digitar essa reflexão, pois desconfiava e ainda desconfio de que a mesma sendo tomada como uma pilhéria poderia espantar os parcos leitores que julgo ter; mas não me contive e digito com toda a certeza de que a nossa vida, independente da tomada de proteção e de uma lógica construída nas relações humanas, sempre está a depender das relações externas, chegando a se assemelhar ao caso contundente colocado acima em forma de imagens, que podem ser surreais; pois uma planta ornamental estando em um local o mais apropriado possível para a própria existência (um jardim) e mesmo assim aparecer um jabuti, ainda mais sendo um ser totalmente herbívoro a colocar em perigo a própria existência, só poderia ser tido como algo surreal.
Ainda bem que existem outros seres vivos que promovem uma conduta mais afeita às tentativas feitas pelos homens de colocar ordem em tudo. Me refiro às abelhas, que para quem não conhece as relações sociais das mesmas, existe uma casta mais numerosa (operárias) que desde que nascem, se não forem aquela escolhida para ser a rainha responsável pela reprodução da espécie, terá uma vida que aos olhos humanos se assemelham em tudo a uma vida proletária, pois segundo os estudiosos no decorrer da existência e do ganho de experiência dentro da colônia, executam tarefas que vão da limpeza à construção das estruturas externas, são responsáveis pela alimentação da rainha, entre tantas outras tarefas, para finalmente conseguirem chegar ao posto de campeiras, que são as abelhas responsáveis pela coleta do néctar e do pólen nas flores que se encontram fora da colônia.
Aos olhos humanos temos um exemplo de organização social que prima pela organização, onde cada ser executa a sua função sem mais delongas, sem greves (como se referiu o Padre Huberto em seu livro), e aos olhos humanos temos uma chamada "zona de conforto" já explanada em outro post, que seria aquela condição favorável exposta por outros seres vivos, que conduzem a uma sensação de estabilidade e ordem tão necessária aos homens, de acordo com uma lógica construída no decorrer dos tempos.
Mas vou finalizar essa reflexão com uma observação meio que surreal que pode muito bem ser também tomada em tom de pilhéria, mas creio que o exemplo de desapego ofertado pelas abelhas operárias frente a uma falta de interesse de também buscar para si a situação cômoda colocada à rainha, que goza de uma ociosidade e licenciosidade fora do comum no mundo dos insetos, a mesma se dá porque a despeito da carga de trabalho colocado e executado pelas campeiras, essas mesmas compeiras de repente têm uma recompensa que está fora do alcance da rainha e zangões atrelados à mesma, em seus desvarios em termos sociais: as campeiras compensam a falta de um maior "contato animal" com o "contato vegetal" proporcionado pelas flores, que aí, poeticamente, ou literalmente falando promovem uma relação que se vista por uma olhar ameno é apenas uma relação natural de reprodução (da planta) junto a uma relação extrativista (das abelhas), uma se "locupletando" da outra. Mas se olharmos bem, com outros olhos, "olhos poéticos", temos aí uma relação frutífera em todos os sentidos para os seres vivos envolvidos nesta relação animal/vegetal. E aí saímos mais uma vez daqueles parâmetros sempre colocados pelos homens, pois entre uma abelha e uma flor existem mais mistérios do que remete a nossa vã filosofia.

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