


Muitos, por se verem inseridos em um ciclo vicioso de estar sempre tentando galgar conquistas e terem um noção de que esse "galgar" pode se tornar a razão da própria existência, sendo uma conduta danosa, principalmente para si mesmo, provocando nessa forma de trafegar no mundo um desgaste do próprio organismo de forma precoce, acabam, em algum momento da vida voltando os olhos para as "coisas naturais". E essa visão pode ser entendida sob vários aspectos, pois vai desde caminhadas em praças, áreas verdes; passando por uma busca por uma alimentação mais saudável em que no prato os vegetais ganham destaque; o desenvolvimento de uma espiritualidade vinda do oriente, como a observada na filosofia budista; e um estilo de vida que é observado como forma de ser um caminho alternativo para fazer frente ao estilo anterior, ou pelo menos haver uma melhor convivência no estilo anterior de vida, onde o resultado final seria a tão falada qualidade de vida.
Acho válido e compreendo que muitos só procuram "olhar para o horizonte" quando, geralmente, o barco está querendo afundar no sentido de que o organismo possa dar algum sinal de desgaste ante os estresses habituais. Então há, por parte de muitos seres urbanos, essa nítida procura em algum momento de suas vidas, e isso acontece de forma genérica, em todas as classes sociais.
E a minha reflexão recai na observação de que é necessário a esses seres, ou a muitos desses seres urbanos passar por etapas que estão mais à mão, pois os que possuem uma maior gama de informação geralmente passam por essas etapas. E creio que conhecer a si mesmo começa por saber que realmente "somos o que comemos", que os alimentos têm sim, um importante papel na manutenção e "aspecto final" dos nossos organismos.
Passada a etapa do conhecimento da importância de haver uma observação quanto ao que ingerimos, há, ou deveria haver, uma abertura maior para o que as plantas nos fornecem, pois além de nos nutrir direta ou indiretamente, pode-se ter a visão abstrata que as mesmas fornecem, e por essa "visão abstrata" entendam como a possibilidade de vislumbrar o Além.
Religiões orientais têm, em sua maioria, o seu alicerce montado a partir dessa visão, e aqui vejo a necessidade de se passar por etapas de contemplação, ou de percepção, até porque essas religiões, mesmo sendo caminhos alternativos, têm a sua razão de ser e podem fornecer os elementos espirituais necessários para a observação do Todo.
Mas aí pode-se passar por mais essa etapa de contemplação de observar religiões tidas como exóticas, pois são oriundas de outras culturas, e finalmente começar a observar a religião da nossa cultura ocidental, que mesmo proveniente do Oriente fora construída e levada adiante devido a uma Intervenção Direta do Criador, sendo mesmo um dos alicerces do nosso mundo ocidental.
Resumo da ópera: seja "verde", mas que o verde não se torne a cor única da vida, apenas uma cor como qualquer outra, que mesmo sendo especial não pode, enquanto criação, fazer frente ao Criador, ou substituir o Criador.
Quando se fala em “ecologia”, em “ecologistas”, em “ambientalismo”, logo pode vir a imagem construída de alguém defensor intransigente da natureza, das coisas da natureza. E creio que devam existir muitos daqueles que de forma radical, por uma razão ou outra se encontram inseridos nessa definição comum quando se trata de conceituar visões e ações que visem dar um destaque à natureza, sob um aspecto humano.
Fugindo desses rótulos e modelos sempre impostos pela humanidade no intuito de verificar, ou definir em qual área os seres humanos trafegam, defino o ser “Verde” como alguém que observa a natureza, é um observador e apreciador da natureza, não importando o motivo dessa percepção ser levada a termo.
Temos muitos exemplos de pessoas que foram além da simples apreciação da natureza e devotam ou devotaram as suas vidas em alguma ação voltada não apenas para a preservação, como associaram que os seres vivos em sua totalidade têm em si, ou guardam a essência primeira do Criador; ou que o Criador “fala” através de Sua criação, fazendo com que uma parcela da humanidade consiga chegar ao Criador através dessa perspectiva. E essa percepção está fadada a todos.
Lembro de um amigo, há vinte anos, quando eu estava em um estágio remunerado, no começo de minha vida profissional, e costumávamos conversar durante um intervalo para o cafezinho, e lembro-me de uma conversa que tivemos, onde não lembro porque cargas d’águas a conversa descambou para esse lado, mas ele narrou a sensação de, ao estar sentado na mesa da cozinha da casa de sua mãe no interior do estado, onde por esse tempo se tornou apenas um local de visita, pois ele havia se mudado para a capital com vistas a melhores condições profissionais, e narrava o revoar das abelhas jandaíras à mesa, à cata do açúcar espalhado pela mesa. E segundo ele, eram tão mansas que pousavam em sua mão, andavam pela sua mão sem causar nenhum dano.
Aquele relato singelo, feito com simplicidade, transbordava com riqueza a sensação agradável, digna de memória, que esse momento proporcionou ao meu amigo; relato tão rico, que mesmo àquela altura, quando nem ao menos suspeitava que anos depois estaria muito envolvido com abelhas, mesmo assim proporcionou a construção em minha mente da cena que deveria ser agradável e que trazia ao meu amigo lembranças agradáveis.
Por isso que ser “Verde” é levar em consideração outros aspectos da criação, além dos aspectos construídos pela humanidade, procurando ver que esses outros aspectos da criação demonstram que a existência humana é apenas mais uma existência na face da terra; talvez a existência que tenha logrado êxito em termos de desenvolver meios mais eficazes de sobrevivência, ou numa linguagem biológica, encontrou meios mais eficazes de perpetuar a sua espécie, mas que mesmo assim, as outras existências merecem o seu lugar e continuam na luta pela sobrevivência, “luta” essa que muitas vezes provoca beleza.